Editora: Gutenberg
Páginas: 376
Classificação: 5/5 estrelas
A trilogia Grisha, que veio antes dessa nova série de Leigh Bardugo, não só em criação, mas também no mesmo universo, não foi a melhor coisa que eu li. De fato, eu até passei o meu Sombra e Ossos pra frente e terminei de ler a série emprestando de uma amiga. Achei o primeiro livro morno, com personagens previsíveis e um enredo que poderia ser interessante, se bem desenvolvido, mas mesmo em suas sequências não achei que a autora entregou todo o potencial que tinha. Six of Crows me pegou de surpresa justamente porque eu fiz o caminho reverso: não tinha grandes expectativas e ele foi perfeito.
A premissa aqui é bem diferente da série anterior. Kaz Brekker, trapaceiro e ladrão que cresceu na região pobre de Ketterdam, recebe uma proposta enervante: montar uma equipe capaz de resgatar um prisioneiro da Corte de Gelo de Djerholm, em Fjerda e, se for bem-sucedido, receberá milhões pela tarefa. A palavra chave é enervante porque, embora o dinheiro seja suficiente para tranquilamente viver o resto de seus dias sem se preocupar com gastos, ninguém nunca antes foi capaz de escapar da Corte de Gelo — e no caso deles, ainda tem a questão de se infiltrar primeiro e só depois escapar. Mas Kaz tem grandes ambições e não se intimida facilmente. De fato, montar a equipe ideal nem leva muito tempo: ele tem Inej, seu Espectro, aquela que desafia a gravidade e percorre ruas e telhados com furtividade e maestria em seu nome; Jesper, o atirador muito eficiente e muito viciado em apostas; Wylan, especializado em demolição (e com utilidades variadas, por assim dizer); Nina, uma Grisha Sangradora que deixou Ravka pouco depois do fim da Guerra Civil por forças maiores; e, com um pouco de esforço, também tem Matthias, um Drüskelle – caçadores de bruxas que capturam e executam Grishas –, que conhece a Corte de Gelo por dentro e é uma peça fundamental para o plano dar certo. E Kaz não tem dúvidas de que pode fazer dar certo.
“Eu sou um homem de negócios”, ele lhe disse. “Nem mais, nem menos.”
“Você é um ladrão, Kaz.”
“Não foi isso que acabei de dizer?”
São seis personagens principais num livro narrado com pontos de vistas alternantes escrito de maneira muito mais adulta e madura do que a trilogia original. Bardugo me surpreendeu muito com a sua capacidade de criar personagens que parecem tão vivos, tão reais, sem se prender a estereótipos nem de personalidades nem de papéis. Cada um tem seus pontos fortes e seus defeitos, todos são pessoas com quem você pode sentir afinidade, com motivos e desejos próprios, pessoas por quem você realmente se pega torcendo, por mais louca e impossível que seja a empreitada deles — e, acredite, ela é louca e totalmente impossível.
“Não é natural que mulheres lutem.”
“Não é natural que alguém seja tão estúpido quanto é alto, no entanto aí está você.”
Claro que também acabei torcendo pela resolução dos romances, porque não dá para não querer ver os casais se entenderem, o que é muito mais do que eu posso dizer que sentia com relação a Sombra e Ossos e seus derivados, mas o romance nesse livro não é intrusivo e não atrapalha nem atrasa o desenvolvimento da trama.
Se o leitor gostou da trilogia Grisha, tenho certeza de que vai gostar de Six of Crows também. A mão que escreve essa história é a mesma, mas com muito mais maestria, de uma maneira que faz você querer saber o que vem em seguida com urgência, mas com as vantagens de que dessa vez não é previsível, e a emoção está sempre viva, com um cenário mais vasto e interessante. Que a Bardugo continue sempre evoluindo assim, porque é impressionante e mágico. Tiro o chapéu.
Muitos garotos lhe trarão flores. Mas algum dia você encontrará um garoto que vai aprender sua flor favorita, sua canção favorita, seu doce favorito. E mesmo se ele for muito pobre para te dar algo, não vai importar, porque ele terá tomado o tempo de conhecer você como ninguém mais conhece. Só esse garoto merece seu coração.
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