Editora: Globo Livros
Páginas: 288
Classificação: 4.5/5 estrelas
Imagino que os livros de mistério policial sejam extremamente difíceis de escrever, devido as várias exigências que caracterizam o gênero, e espera-se que os autores as dominem bem. Atualmente temos grandes nomes masculinos destacando-se no gênero, mas em meio a tantos homens Agatha Christie não só domina como também pode ser considerada a rainha do suspense.
Uma velha madrasta dominadora, porém de grande coração, acaba morrendo durante a noite em sua própria casa casa de campo. Alguns defendiam a morte como um mero infarto, outros defendem bravamente que ela foi assassinada por envenenamento por algum dos moradores da casa. Mas como saber quem realmente está com a razão? Na ocasião do infeliz evento, o Mr. Hastings estava em estadia na casa de campo e quando soube que Hercule Poirot estava por perto, não pensou duas vezes: chamem o detetive Poirot!
A prova real é normalmente vaga e insatisfatória. Precisa ser examinada… peneirada.
Este foi o primeiro livro da autora e também o primeiro da série de livros que envolverá o detetive Hercule Poirot. Desde o primeiro livro, identificamos sua maneira formidável de criar um romance policial engenhoso, habilmente planejada e talentosamente construído, o que só confirma ainda mais minha ideia de que ela foi realmente — e ainda é — uma das melhores autoras do gênero.
A autora criou um modelo para seus livros, um padrão: ela apresenta os personagens — e que mais para frente serão os principais suspeitos –, introduz o detetive de maneira sutil, comete o crime, distribui as provas e então começa a brilhante jornada em descobrir quem realmente é o culpado. Neste livro não é diferente, no primeiro capítulo são apresentados os personagens e logo no segundo acontece o assassinato. E esse é um dos problemas para mim, principalmente no começo, é difícil lidar com a quantidade razoavelmente grande de personagens. Eu entendo que o propósito da autora seja realmente trazer vários suspeitos, mas diversas vezes é necessário voltar algumas páginas para relembrar quem é quem, até o momento que de fato você consiga se lembrar de todos assim que seja citado o nome de tal personagem. Mesmo sempre seguindo este modelo padrão, ela nunca deixa surpreender o leitor com casos assustadoramente brilhantes.
O instinto é uma coisa maravilhosa. Não se pode explicá-lo nem ignorá-lo. […] Há situações que você tem de confiar em si mesmo.
Uma das coisas que mais me surpreende nas histórias de Agatha é que em todos seus livros o desfecho é simplesmente inesperado. Mesmo que todas as provas e pistas, dicas e fatos estejam jogados na sua cara, você não consegue descobrir quem efetivamente é o assassino. A autora parece brincar com o leitor, porque quando ela expõe todos os fatos em uma linha temporal linear podemos observar que um mísero pedaço de pano ou uma mancha no tapete eram extremamente fundamentais para que o quebra-cabeça se encaixasse mas estávamos distraídos o suficiente para não perceber os detalhes, uma distração que a própria autora gera no leitor. Ao apostar em um desfecho simples, quando o misterioso caso é finalmente revelado acabamos nos sentindo tolos por não ter percebido algo que estava tão óbvio.
Para os leitores que não são muito fãs de clássicos, talvez esse não seja o livro mais indicado. A narrativa tem uma linguagem bem específica da época em que se passa a história, com expressões e conversas que remetem o leitor a década de 20. Então não espere um “e aí, brow?” porque você não encontrará esse e outros tipos de expressões e ainda terá de lidar com algumas frases em francês.
Entretanto vale a tentativa, afinal esse é mais um caso intrigante, com personagens altamente suspeitos e um desfecho brilhante. Se você, assim como eu, é apaixonado por um bom caso policial, este — e qualquer outro — livro da Agatha preenche todos os pré-requisitos para ser considerado um ótimo suspense.
Primeiros comentários