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FORA DOS LIVROS | Logan Lerman prova que é muito mais do que Percy Jackson em seu novo filme


Indignação é baseado no livro homônimo do aclamado autor norte americano Phillip Roth. No filme conhecemos Marcus Messner, um garoto judeu, filho de um açougueiro, que está prestes a ir para a faculdade Winesburg com uma bolsa de estudos integral. A história se passa em 1951, em meio à guerra da Correia, que levou vários dos conhecidos da comunidade judaica de Newwark onde Marcus reside. Sua família vive aliviada pois o filho irá estudar e não poderá ser convocado para a guerra, onde provavelmente teria o destino parecido dos outros garotos. Quando chega em Winesburg, uma instituição pequena e muito conservadora, ele se mostra um estudante aplicado, que só se dedica as aulas, ao seu trabalho na biblioteca e as visitas obrigatórias a capela da universidade, que são pré-requisito para conseguir seu diploma ao fim de quatro anos. Mesmo com toda a determinação que possui em não se desvirtuar do seu caminho acadêmico, ele acaba se encantando por Olivia, uma das meninas mais bonitas da universidade. Ele então cria coragem para chama-la para um encontro, que trará consequências que irão abalar seus planos, suas crenças pessoais e até o seu próprio futuro na universidade.

O elenco do filme é excelente: Logan Lerman, nosso eterno Percy Jackson, interpreta Marcus e também é produtor executivo do filme. Ele dá uma atuação perfeita para o personagem, intercalando a frieza com os pais, sua determinação nos estudos, sua força em defender seus pontos de vista, seu lado apaixonado e sua angustia. Dá muito orgulho do menino Logan, que está sabendo escolher muito bem seus papeis e saindo do estigma de ator juvenil.

Sarah Gadon para mim foi a surpresa do filme, ela consegue imprimir força e fragilidade na Olivia, que para mim é a melhor personagem do filme. Ela nos mostra muito bem como era o papel da mulher nos anos 50, mesmo inseridas no mundo universitário, muitas delas ainda eram vistas como inferiores e deveriam se mostrar mulheres respeitosas pois talvez conseguissem um marido ainda dentro da faculdade. Claramente Olivia quer ser livre para expressar sua sexualidade e ter independência, porém vive presa num mundo de hipocrisias, e toma algumas atitudes que a faz ser tratada como doente mental, aliás coisa muito comum nos anos 50 e 60 nos EUA. Outro fato interessante é que a Olivia do filme possui inspiração em Sylvia Plath, uma grande autora americana, que sempre teve um histórico de depressão e que se suicidou, a Sarah caracterizada de Olivia ficou muito parecida com a Sylvia, foi uma linda homenagem feita pelo diretor.

O resto do elenco é quase todo oriundo do teatro nova-iorquino, e devo destacar Tracy Letts que faz o intragável Reitor Caudwell numa performance energética e irritante, vem dele e do Logan a cena mais incrível do filme que é o embate ideológico entre Marcus e Caudwell, simplesmente uma aula de atuação. A cena praticamente não tem cortes e te dá sensações que vão da raiva à claustrofobia, é o tipo de cena que te faz ficar grudado na cadeira do cinema sem conseguir relaxar enquanto ela não acaba. Sem esquecer, claro, de Danny Burstein e Linda Emond, que fazem os pais do Marcus, um casal muito complicado que possui no filho seu único ponto em comum, e que trazem a carga de medo e o orgulho de serem pais, e de um casamento fracassado.

A forma terrível e incompreensível pela qual nossas escolhas mais banais, fortuitas e até cômicas conduzem a resultados tão desproporcionais.

A direção e o roteiro são de James Schamus, que foi CEO da Focus Features, roteirista e produtor independente. Indignação é seu primeiro filme após 25 anos trabalhando nos bastidores da indústria do cinema. Seu trabalho de direção é cuidadoso, toda a produção de arte, figurino, locações, montagem e trilha sonora foram feitos com muito cuidado para que você se sinta realmente nos anos 50. A fotografia toda em tons ocres e escuros dá a impressão de algo velho, distante e belo. Contudo, falta ritmo na trama, que alterna momentos do dia-a-dia, debates acalorados, um pouco de romance, e até breves momentos de comédia, que ainda que me pareceram necessários, ainda assim parecem um pouco deslocados da trama. Eu acredito que ainda falta algo autoral ao diretor. Ele faz um trabalho bem feito, mas não consigo dizer que ele desenvolveu uma linguagem própria, coisa que provavelmente só veremos em seus próximos filmes, e que com certeza terei muito interesse em assistir.

O longa possui uma trama forte, com temas relevantes, ótimas atuações e uma produção belíssima, claro que tem problemas de ritmo e uma falta de experiência do diretor, mas nada que atrapalhe a experiência imersiva do filme que te faz experimentar diversos sentimentos durante a trama. Assistir esse filme despertou ainda mais o interesse na obra de Phillip Roth e com certeza o primeiro livro que lerei dele será Indignação. Quando ao filme, ele está mais que recomendado.

Seja maior do que os seus sentimentos, não sou eu que exijo, é a vida. Caso contrário será arrastado por seus sentimentos. Será arrastado para o mar e ninguém mais o verá.

Estreia aguardada para 03 de novembro.

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Virginia Bizerra

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