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RESENHA ARQUEIRO | “Apenas um Garoto” – Bill Konigsberg


Apenas um garoto

Autor: Bill Konigsberg
Editora: Arqueiro
Páginas:
256
Classificação:
4/5 estrelas

Apenas Um Garoto conta a história de Rafe, um adolescente que, ao contrário do que a maioria dos jovens homossexuais almejam, quer “voltar” para o armário. Cansado de ser rotulado em sua antiga escola por ser gay, mesmo que não sofresse bullying, Rafe resolve se transferir para uma instituição para garotos para cursar o último ano e se misturar sem revelar sua sexualidade e ser apenas um menino como “qualquer outro”. Mas esconder uma parte importante de si, mesmo que ele não perceba, pode se tornar uma tarefa árdua.

Quem era Rafe de verdade? É possível deixar uma parte de si mesmo em espera? E, se você fizer isso, ela se torna uma mentira?
Tudo é mais fácil para os heterossexuais. Eles não entendem. Não conseguem. Não existe essa coisa de ser hétero assumido.

Vejam bem, eu fui preparado para odiar esse livro. Sério. Pensem comigo: é um assunto tão delicado sair do armário, sendo que para quem está nesse período de autoaceitação seria ainda pior ler um livro que pregasse algo que reforçasse os padrões sociais de heteronormatividade. Nos dois primeiros capítulos, na medida que os garotos da escola são apresentados, em sua maioria brancos, malhados e atletas, bem estereotipados, meu medo aumentou e passei a temer de que fosse uma história que se aproximasse da utopia homossexual qual existe entre o meio. Felizmente, eu estava equivocado. Foi confiando naquela pulguinha atrás da orelha que me acusava de estar tirando conclusões cedo demais que logo percebi que tudo isso foi delineado para que Rafe pudesse desconstruir junto ao leitor durante a leitura.

Rafe é um garoto que num primeiro olhar nos parece egoísta por não dar valor ao que tem. Ainda assim, não é de todo errada a sua insatisfação com rótulos. Claro, não a ponto de não querer ser honesto com o mundo e com quem você é, mas ser homossexual, muitas vezes, deixa de ser uma característica sua e passar a ser quem você é. O Amigo GAY, ou colega GAY, o vizinho GAY ou o primo GAY, ou qualquer coisa do tipo. O indivíduo se torna estigmatizado por sua sexualidade. O livro vem nos dar um alerta quanto a isso e desperta duas perspectivas de uma mesma realidade, além de nos lembrar que errar é algo que continuamente estamos sujeitos a fazer.

Não dá pra negar que fiquei deslumbrado quando me dei conta que os dilemas levantados pelo autor foram idealizados para nos aproximar da humanidade. Rafe cresce: errou, acertou, caiu e se levantou diversas vezes. Terminamos o livro apaixonados por ele e com vontade de abraçá-lo. Para quem no início queria matá-lo, que avanço, não?

Gostei dos personagens de apoio, embora senti falta de desenvolvimento. Os colegas de quarto poderiam ter sido explorados, mas o autor deu um destaque maior para o interesse amoroso de Rafe que, como no início não fica exatamente claro logo de cara quem seria, prefiro não dar spoiler por aqui. Mas adianto que você pode morrer de raiva e cair de amores, tudo ao mesmo tempo. A narrativa é bem divertida e prende muito bem, tiro por mim, que não consegui largar o livro até terminar. A escrita tem um “q” de John Green, mas de forma mais suave.

Era como se aquele fosse nosso jeito. Então me perguntei se funcionaria assim mesmo, meio Brokeback Mountan. Dormiríamos juntos por um ano, então finalmente iríamos além, mas nunca falaríamos sobre o assunto. Em seguida, ele se casaria e eu seria assassinado no Texas.
Provavelmente não, mas cuidado nunca é demais.

Por fim, tive um acesso de raiva que terminei um capítulo e li “agradecimentos”. “PQP COMO ESSE CARA FAZ ISSO COMIGO P*** COMO TERMINA O LIVRO DE FORMA TÃO VAGA” foi o que pensei, e mais algumas coisas nada agradáveis. Então fiz uma pesquisa rápida no Goodreads e descobri que terá continuação. Ufa! Editora Arqueiro, queridíssima, traga a continuação o quanto antes para nós! E continue apostando em livros com personagens LGBT que nós adoramos.

É difícil ser diferente, e talvez a melhor resposta não seja tolerar diferença, nem mesmo aceitá-las, e sim celebrá-las. Talvez essas pessoas que são diferentes se sentissem mais amadas e menos… bem, toleradas.


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Valdesson

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